Frase

"A Revolução Francesa começou com a declaração dos direitos do homem, e só terminará com a declaração dos direitos de Deus." (de Bonald).
São Paulo, sexta-feira, 28 de julho de 2006

Jardineiro, exemplo para os governantes!

Autor: Edson   |   14:54   Seja o primeiro a comentar

Tratou-se aqui sobre a subsidiariedade e para demonstrarmos a naturalidade deste sábio princípio podemos pegar vários exemplos do dia-a-dia. A função que um simples jardineiro desenvolve é um destes.

Se o jardineiro vê pragas numa planta que impede seu crescimento, não vai puxar a planta para fazê-la se desenvolver na marra. Antes de tudo ele combate a praga e depois aduba a terra,, deixa o ambiente propício para que a planta mesmo siga seu rumo. Ele é, portanto, o aliado de uma ordem natural. Este é o governante exato. Observa muito, e estimula na medida em que pode., cercei aquilo que impede a livre iniciativa, mas guia pouco.

O jardineiro serviu subsidiariamente a planta. Não interferiu na esfera de ação própria a ela, apenas a auxiliou no que não lhe era possível por si só, ou seja, defender-se das pragas e melhorar a terra em que foi plantada. Feito isso, a ação do jardineiro sobre a planta acabou. Deve agora deixar que a planta se desenvolva sozinha.

Depois de visto esse fato da vida concreta - as relações entre o jardineiro e a planta - é muito fácil transpor do circuito das relações individuais para as instituições, para os países, etc.

A organicidade não é meramente individual. Os homens sentem muito bem que vários tipos de atividade eles não conseguem desenvolver sem se agruparem, formando espontaneamente uma sociedade.

Se forem à Junta Comercial de São Paulo verificar qual é o número de firmas comerciais inscritas lá, e ainda funcionando, verão que o número é enorme. Maior ainda se forem somar todas as associações de outros tipos existentes em São Paulo. Isto porque foram associações constituídas livremente, sem interferência do governo, o qual simplesmente determinou por lei como deveriam estar constituídas, para que tenham responsabilidade perante o Estado: quantos sócios podem ou não podem ter, que poderes mínimos essenciais a diretoria deve ter, umas coisas assim.

Por sua vez, o homem nota que não pode viver sozinho, tem que formar uma família. As famílias constituídas têm que formar um município. Os municípios, têm que formar uma província ou região. As regiões têm que formar um Estado. E os Estados, conforme o caso, devem formar uma federação.

Nas relações todas, o princípio de subsidiariedade se aplica brilhantemente. No que pode fazer por si, a família não deve recorrer ao apoio do município ou do Estado. Se não puder, subsidiariamente entra o município. Por sua vez, o município tem em relação ao Estado um procedimento análogo ao que a família tem com o município. Tudo quanto um município pode fazer para seu bem por si mesmo, não deve pedir apoio ao Estado. Mas se não pode fazer por si o necessário para a subsistência, tem o direito de pedir ao Estado que intervenha, pelo princípio de subsidiariedade, e o Estado tem obrigação de intervir.

Esse é o princípio de subsidiariedade, que dá os limites do poder do Estado. Pergunta-se então: "Mas o Estado, em tese, pode tudo?" "Ele poderá tudo no dia em que ninguém puder nada. Mas no dia em que ninguém puder nada, o Estado é impossível, porque com um corpo morto não se faz nada" (Frase de Plínio Corrêa de Oliveira).

Umas palavras pessoais sobre sociologia

Há meu ver, para termos uma sociologia bem fundamentada não adianta ler 4 mil livros. Temos que, antes de tudo, observar atentamente a organicidade das relações entre indivíduos. trata-se da observação comum da vida concreta.

Há uma expressão para dizer quando o sujeito é pouco previdente: "Não enxerga dois dedos adiante do nariz". Para enxergar longe, precisa começar por enxergar o imediato. O que se deve querer é enxergar o imediato, para depois ver ao longe. Deve-se sempre tomar as coisas assim, esmiuçar e conhecer. Daí se sobe. Isso dá calma, faz-se levemente. Depois disso se pode folhear os quatro mil livros, para ler só o indispensável.

O problema de muitos sociólogos é que ficam em seus escritórios formulando teorias e mais teorias, querendo ver longe sem se dar o trabalho de primeiramente observar o que ocorre a "dois dedos de seu nariz". Muitos nem se importam em saber se suas teses estão fundamentadas na realidade, resultado: quantas nações hodiernas sofreram e sofrem ainda com essas teorias. O povo russo, por exemplo, serviu, e ainda serve, como cobáia deste tipo de sociólogos.

Bem, o marxismo fracassou na Rússia, o que fizeram a maioria dos sociólogos? Fizeram novas teorias.

Quando eles aprenderão a lição básica de Filosofia que é a simples observação? Eu não sei. Só espero que não demore muito.

São Paulo, quinta-feira, 27 de julho de 2006

Estudo sobre os Príncipios de Subsidiariedade, Autoridade e Solidariedade

Autor: Edson   |   14:09   Seja o primeiro a comentar

Segue abaixo o estudo realizado pela Comissão da TFP para Assuntos Americanos, publicado no livro "Já enfrentei outras tempestades - Uma resposta aos escândalos e às reformas democráticas que ameaçam a Igreja Católica".

Estudo sobre os Príncipios de Subsidiariedade, Autoridade e Solidariedade

A utilização do princípio de subsidiariedade para destruir a forma hierárquica de governo da Igreja e da sociedade envolve dois erros:

1 - Um erro filosófico-sociológico, originário de falsa compreensão do princípio de subsidiariedade;

2 - Um erro metodológico, ao tirar conseqüências teológicas da aplicação de um princípio filosófico-sociológico.

Devemos analisar primeiro o próprio princípio de subsidiariedade seu conceito básico e o que diz sobre ele o Magistério da Igreja, em seguida sua falsa interpretação liberal e os princípios de Autoridade e Solidariedade, e finalmente o erro de aplicar essa interpretação à Igreja, em detrimento da sua natureza teológica.

Segue o endereço dos artigos.

Visão geral sobre o Princípio de Subsidiariedade:

http://conservadoredai.blogspot.com/2006/05/livre-iniciativa-e-o-princpio-de.html

Conceito Básico e o Magistério da Igreja:

http://conservadoredai.blogspot.com/2006/07/o-princpio-de-subsidiariedade-e-o.html

Falsa Interpretação Liberal:

http://conservadoredai.blogspot.com/2006/07/falso-conceito-liberal-do-princpio-de.html

Princípio de Solidariedade:

Princípio de Solidariedade

Autor: Edson   |   13:33   Seja o primeiro a comentar

PRINCÍPIOS BÁSICOS DE UMA ORDEM SOCIAL SADIA

Os estudiosos da filosofia política e da doutrina social católica especificam três princípios básicos numa sadia ordem social: autoridade, solidariedade e subsidiariedade (Cfr. A terminologia que usam, contudo, não é uniforme. Heinrich Rommen, por exemplo, escreve: “A vida social é governada pelos princípios de autonomia, de hierarquia e de intervenção” (Heinrich Rommen, The State in Catholic Thought – Herder, St. Louis, 1945, p. 302). Esses três princípios devem atuar conjuntamente para o bem comum. Sendo os três necessários, o princípio de autoridade proporciona a unidade e a finalidade da sociedade. Como se pode ver, um desequilíbrio de qualquer desses princípios pode lesar o bem comum. Exagero de solidariedade conduz ao coletivismo; exagero de subsidiariedade leva à anarquia; e excesso de autoridade conduz à tirania, como é evidente nos regimes totalitários.

PRINCÍPIO DE SOLIDARIEDADE

O Cardeal Höffner distingue o princípio de subsidiariedade do de solidariedade:

“O princípio de subsidiariedade supõe os princípios de solidariedade e do bem comum, sem com eles identificar-se. A sociedade é obrigada a ajudar os indivíduos. Trata-se de um postulado claro do princípio de solidariedade, que acentua a mútua união e obrigação .Cabe ao princípio de subsidiariedade limitar e distribuir as competências a serem respeitadas nessa ajuda”. (Cfr. Cardeal Hoeffner, Op. cit., p. 35).

Portanto, o uso adequado do princípio de subsidiariedade pela autoridade regula o princípio de solidariedade. O princípio de subsidiariedade, no entanto, não é o princípio que dirige ou conduz a sociedade.

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A Importância de Autoridade na Igreja

Autor: Edson   |   11:38   Seja o primeiro a comentar

O princípio de autoridade na Igreja, como uma sociedade dos fiéis,[1] é mais importante ainda do que na sociedade temporal. Essa importância provém do fato de que o ato de fé é baseado na autoridade de Deus, que revela, e na autoridade da Igreja, que ensina o que se deve crer.[2]

Eis por que o Pe. Lercher afirma que “a autoridade é a causa formal da Igreja como sociedade visível”.[3]

A sociedade civil, que pertence à ordem natural, e a sociedade eclesiástica (a Igreja), que pertence à ordem sobrenatural,[4] são análogas mas não são idênticas.[5]

O governo na sociedade civil tem origem puramente natural, e provém de circunstâncias históricas. Ao contrário, a hierarquia da Igreja tem origem sobrenatural e foi instituída por Deus. Portanto, a estrutura hierárquica da Igreja é única, essencialmente diferente do governo na sociedade civil.

Outra diferença é que o exercício da autoridade na sociedade civil não imprime caráter indelével no seu detentor. Embora as dinastias tenham acabado por adquirir um caráter, por assim dizer, sagrado, isso ocorre somente na ordem natural e simbólica. Na Igreja é diferente. Mesmo quando uma pessoa é designada para um cargo por meios humanos, ela só entra na Sagrada Hierarquia quando recebe o caráter sacramental da plenitude da Ordem.[6]

Portanto, o governo da Igreja, como instituição, difere do governo civil quanto à natureza, pois Ela é de instituição divina e tem base sacramental, fundada no sacramento da Ordem. Deve-se ter sempre em mente essa diferença quando se aplica à Igreja o princípio de autoridade.

A CORRETA APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DE SUBSIDIARIEDADE NA IGREJA

Quando aplicam o princípio de subsidiariedade, freqüentemente os reformistas citam as palavras de Pio XII, de que ele é válido “também para a vida da Igreja”. Omitem, contudo, esta importante ressalva: “...com o devido respeito à sua estrutura hierárquica”.[7]

Portanto, o princípio de subsidiariedade se aplica à Igreja na medida em que esteja em harmonia com e subordinado à natureza teológica da Igreja, isto é, respeitando a autoridade do Papa e dos bispos para ensinar, governar e santificar os fiéis. Daí o princípio de subsidiariedade dever ser ajustado de modo a acomodar-se às realidades sobrenatural e natural da Igreja.

Tendo Cristo confiado à hierarquia a missão de ensinar, governar e santificar os fiéis, estes, pelo Batismo e a Confirmação, têm o direito de prover às suas necessidades espirituais sem interferência indevida da autoridade eclesiástica. Além disso, os fiéis têm o direito, e por vezes o dever, de auxiliar o bem comum tanto da sociedade temporal quanto da própria Igreja, pois são membros de ambas.

Há certas necessidades espirituais, por outro lado, que os fiéis não podem prover por si mesmos. Por exemplo, dependem do ministério sacerdotal para a vida sacramental.

Como na sociedade temporal, a autonomia individual na Igreja não pode ser exercida em detrimento do bem comum espiritual ou com distúrbio da ordem pública eclesiástica.

O DIREITO DE ASSOCIAÇÃO NA IGREJA

O direito de associação na Igreja é um claro exemplo da aplicação adequada do princípio de subsidiariedade à Igreja.

Todo fiel tem o direito de tomar iniciativas que façam progredir o apostolado, a caridade, a piedade, a divulgação da boa doutrina, a vida mais perfeita, ou ainda impregnar a sociedade com o espírito do Evangelho.[8] O exercício desse direito não está sujeito à intervenção eclesiástica. Como qualquer outro direito, no entanto, está sujeito à vigilância eclesiástica em matéria de fé e moral.

Não obstante, o Direito Canônico reserva exclusivamente à autoridade eclesiástica o estabelecer associações que difundem a doutrina católica em nome da Igreja, como também as que promovem culto público ou outras atividades cuja natureza é reservada à autoridade eclesiástica.[9]

Isso se compreende, pois o culto público é o que se presta em nome da Igreja por pessoas devidamente designadas para tal propósito, de acordo com as formulações estabelecidas pela autoridade eclesiástica competente. Do mesmo modo, a divulgação da doutrina católica em nome da Igreja envolve a responsabilidade da hierarquia, e assim requer o controle desta.

O Direito Canônico prevê também a hipótese de a autoridade eclesiástica exercer o princípio de subsidiariedade mesmo em um campo não restrito por sua própria natureza à autoridade eclesiástica, e normalmente deixado à iniciativa privada dos fiéis. A hierarquia pode intervir e estabelecer ela mesma associações quando a iniciativa privada dos fiéis for insuficiente: “A autoridade eclesiástica competente, se o julgar apropriado, pode também erigir associações de fiéis cristãos com o fim de atingir direta ou indiretamente outros fins espirituais, não obtidos suficientemente pelo esforço privado das pessoas”.[10]

Em tudo isso se nota uma aplicação equilibrada do princípio de subsidiariedade, sem violação da estrutura hierárquica da Igreja pelos fiéis, e nenhuma violação da autonomia dos fiéis pela autoridade eclesiástica.

MEMBROS FIÉIS DO CORPO MÍSTICO DE CRISTO

Não existe nada totalitário ou ditatorial no que se refere à Igreja. Inspirados pelo Espírito Santo, a santidade e o zelo apostólico não dependem da posição pessoal de cada um no seio da Igreja, mas da fidelidade à graça.

Como vimos, os fiéis não têm uma posição meramente passiva na Igreja. São membros do Corpo Místico de Cristo, e como tais devem fazer todo o possível para propagar a doutrina e a moral de Cristo no mundo, como verdadeiros apóstolos. Devem preocupar-se pela Igreja e zelar por Ela. Contudo, devem ao mesmo tempo “conservar as tradições que aprenderam”[11] do Magistério perene da Igreja.

A Igreja sempre respeitou e incentivou a verdadeira liberdade dos filhos de Deus. Nada existe de verdadeiramente bom que escape aos limites da Igreja, seja para os fiéis ou para o clero, desde que a natureza da Igreja e o seu caráter sacramental e poderes de jurisdição sejam respeitados.

Essa enorme liberdade explica por que a história da Igreja é tão rica de iniciativas apostólicas e de novas formas de vida religiosa ou associativa.

Daí o vigor e a força do leigo católico num São Luís IX da França, que era modelo de governante cristão e de guerreiro. Jornalistas como Louis Veuillot, que dedicou seus escritos à defesa da verdade católica. Um Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, cujo pensamento e ação atraíram tantos a dedicar suas vidas à Igreja e à restauração da civilização cristã.

Veja-se a maravilhosa proliferação de ordens religiosas, o florescimento de congregações, o número incontável de associações caritativas, educacionais e apostólicas de leigos, a frutuosa ação de leigos na política, nas artes, na ciência, em todos os ramos da atividade humana.

Aí está a grande liberdade com que os leigos formam hoje associações e movimentos para educar o público sobre os males do aborto, para promover o ensino domiciliar, os direitos dos pais, a liturgia tradicional latina, a adoração perpétua, o Rosário e muito mais. Nenhum membro do laicato está proibido de praticar ou promover uma devoção legítima.[12]

No entanto, uma coisa é os fiéis terem toda a liberdade para agir na sua própria esfera, outra muito diferente é usurpar os direitos da hierarquia em nome da liberdade, enquanto reclamam que não há bastante liberdade para conseguirem êxito nessa usurpação.
[1] - São Roberto Bellarmino assim define a Igreja: “Um conjunto de homens unidos pela profissão da mesma fé cristã, e pela participação nos mesmos sacramentos, sob o governo de pastores legítimos, mais especialmente do Pontífice Romano, o único Vigário de Cristo sobre a terra”. Citado em G.H. Joyce, s.v., Church, in Catholic Encyclopedia, vol. 3, p. 745. Os destaques são nossos.

[2] - Cf. Leão XIII, encíclica Satis Cogitum, 29 de junho de 1896, n° 9 – www.ewtn/library/encyc/l13satis.htm.

[3] - Lercher, Instituciones Theologiæ Dogmaticæ, p. 240.

[4] - Pio XI: “As sociedades necessárias são em número de três [...]; dessas, duas — a saber. a família e a sociedade civil — são da ordem natural; e a terceira, a Igreja, pertence à ordem sobrenatural” – Denzinger, 2203. Cf. Salaverri, De Ecclesia Christi, in VV.AA., Sacræ Theologiæ Summa, Vol. 1, n° 927.

[5] - Cf. Salaverri, De Ecclesia Christi, in VV.AA., Sacræ Theologiæ Summa, Vol. 1, p. 827.

[6] - Cf. Gréa, De l’Église, p. 100.

[7] - Pio XII: La elevateza, in Discorsi e Radiomessaggi di Sua Santità Pio XII, p. 389.

[8] - Ver Cânons 215, 225 § 1, 298 § 1.

[9] - Cânon 301 § 1.

[10] - Cânon 301 § 2.

[11] - 2 tess. 2,14.

[12] - Ver João Paulo II, Exortação Apostólica Christi Fideles Laici, sobre a vocação e a missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, 30 de dezembro de 1988 – www./ewtn/library/papaldoc/jp2laici.htm. Ver também cânons 204-231.

O Princípio de Autoridade

Autor: Edson   |   11:37   Seja o primeiro a comentar

O papel diretivo numa ordem social sadia pertence ao princípio de autoridade. O bom funcionamento da sociedade requer que a finalidade para a qual ela existe seja assegurado pela ação firme de governo.

O Pe. Baltasar Pérez Argos explica o papel insubstituível do princípio de autoridade numa ordem social sadia:

“Se a solidariedade e a subsidiariedade são os princípios fundamentais da organização da ordem social, que de um lado dá ao homem o apoio de que precisa para viver uma vida verdadeiramente humana (Gaudium et Spes, 26) e de outro o faz sem prejuízo para a sua liberdade, devemos acrescentar um outro princípio: o de autoridade. Sem o princípio de autoridade, a ordem social não teria nem a solidariedade nem a eficácia necessárias para conseguir o que se espera dela, e que se chama bem comum. O princípio de autoridade é complementar aos outros dois. Afirma que é necessária, em toda sociedade organizada, a existência de uma força moral capaz de guiar eficientemente a ação de todos os membros que a compõem, no sentido de atingir o bem comum da sociedade”.[1]

Ao exercer o princípio de autoridade, o governo deve sempre mostrar o devido respeito às legítimas autonomias e limitar a sua intervenção a manter a ordem, e por outro lado favorecer os objetivos gerais da sociedade.[2]

[1] - Pe. Baltasar Pérez Argos, S.J., Los Cuatro Pilares da la Doctrina Social, in Verbo, Março-abril de 1991, p. 333.

[2] - Ibidem, pp. 332-333.

Falso Conceito Liberal do Princípio de Subsidiariedade

Autor: Edson   |   11:34   Seja o primeiro a comentar

O princípio de subsidiariedade tem sido freqüentemente mal entendido. Como observa o Pe. R.E. Mulcahy, S.J., muitas pessoas, imbuídas do espírito liberal do século XIX, querem dar ao princípio de subsidiariedade uma interpretação quase anarquista. Assim fazendo, esses liberais opõem o princípio de subsidiariedade ao de autoridade, num esforço para abolir esta última. Encaram a autoridade, na melhor das hipóteses, como um mal necessário ou tolerado.

O Pe. Mulcahy assinala que João XXIII aborda essa interpretação errônea na sua encíclica Mater et Magistra. Reconhecendo o direito da autoridade de intervir, o Papa mostra como os princípios de subsidiariedade e autoridade devem atuar juntos, com a autoridade maior pronta a intervir sempre que necessário. Nas palavras da encíclica: “Nesse trabalho de dirigir, estimular, coordenar, suprir e integrar, o princípio orientador [do poder civil] deve ser o ‘princípio de função subsidiária’, formulado por Pio XI na Quadragesimo Anno” (Cfr. João XXIII, Mater et Magistra, 15 de maio de 1961, in The Encyclicals and Other Messages of John XXIII – TPS Press, Washington, D.C., 1964, p. 263).

O princípio de Subsidiariedade e o Magistério da Igreja

Autor: Edson   |   11:27   Seja o primeiro a comentar

O princípio de subsidiariedade está associado ao princípio de autonomia. Este último consiste no direito que tem a pessoa de prover às suas próprias necessidades materiais, culturais e espirituais sem interferência de autoridades maiores.

CONCEITO BÁSICO

O princípio de subsidiariedade (do latim subsidium – auxílio, assistência) tem dois aspectos:

a) a necessidade de a autoridade respeitar a autonomia de uma pessoa;

b) obrigação da autoridade de auxiliar a pessoa naquelas áreas onde os seus esforços são insuficientes.

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira explica:

“A intervenção do poder público nos vários setores da vida nacional deve fazer-se de maneira que, o mais breve possível, cada setor possa viver com a necessária autonomia. Assim, cada família deve poder fazer tudo aquilo de que por sua natureza é capaz, sendo apoiada apenas subsidiariamente por grupos sociais superiores naquilo que ultrapasse o seu âmbito. Esses grupos, por sua vez, só devem receber o apoio do município no que excede à normal capacidade deles, e assim por diante nas relações entre o município e a região, ou entre esta e o país”. (Cfr. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução – Parte I, Cap. III, F.)
ENSINAMENTO DA IGREJA

Em 1931, o Papa Pio XI referiu-se explicitamente ao princípio de subsidiariedade na encíclica Quadragesimo Anno. Contudo, deve-se notar que, sendo um princípio da ordem natural, a subsidiariedade estava certamente implícita nos escritos sociais de Leão XIII (Cfr. Pe. R.E. Mulcahy, s.v., Subsidiarity, in New Catholic Encyclopedia – McGraw Hill, New York, 1967, Vol. 13, p. 762). Eis a formulação que Pio XI dá desse princípio, na sua encíclica:

“Aquele importante princípio, que não pode ser desprezado ou mudado, permanece fixo e inabalável na filosofia social: Como não se pode subtrair do indivíduo e transferir para a sociedade aquilo que ele é capaz de produzir por iniciativa própria e com suas forças, assim seria injusto passar para a comunidade maior e superior o que grupos menores e inferiores são capazes de empreender e realizar. Isso é nocivo e perturbador também para toda a ordem social. Qualquer atuação social é subsidiária, de acordo com a sua natureza e seu conceito. Cabe-lhe dar apoio aos membros do corpo social, sem os destruir ou exaurir. [...] Quanto mais fiel for o respeito dos diversos graus sociais através da observância do princípio de subsidiariedade, tanto mais firmes se tornam a autoridade social e o dinamismo social e tanto melhor e mais feliz será o Estado”(Cfr. Pio XI, Quadragesimo Anno, 15 de maio de 1931, n° 79).

João Paulo II também desenvolve o princípio de subsidiariedade, dizendo:

“Uma comunidade de ordem mais elevada não deve interferir na vida interna de uma comunidade de ordem inferior, privando-a de suas funções, porém deve sustentá-la em caso de necessidade e ajudar a coordenar sua atividade com as atividades dos demais membros da sociedade, sempre com vistas ao bem comum” (Cfr. João Paulo II, encíclica Centesimus Annus, 15 de maio de 1991, n° 48 – www.ewtn/library/encyc/jp2hundr.htm. Cf. Catecismo da Igreja Católica, n° 1883).

No seu livro Doutrina Social Cristã, o Cardeal Joseph Höffner expõe quando, de acordo com o princípio de subsidiariedade, a intervenção da sociedade mais elevada é necessária:

“Mas subsidiariedade significa também ‘ajuda de cima para baixo’, coisa que, às vezes, tendenciosamente se tenta ignorar. Essa ajuda do organismo social maior pode ser oferecida por duas razões: ou porque indivíduos e grupos menores fracassaram nas tarefas que lhes cabem, com ou sem culpa; ou por se tratar de tarefas que só uma organização social maior teria condições de dominar” (Cfr. Cardeal Joseph Hoeffner, Doutrina Social Cristã, Edições Loyla, São Paulo, 1986, p. 36).

Na Encíclica Quadragesimo Anno, Pio XI combateu a tendência totalitária e centralizadora dos tempos modernos, especialmente o socialismo e a tecno-burocracia, que sufoca o indivíduo e comunidades menores numa maré montante de leis, regulamentos e planejamento federal ou estadual.

São Paulo, domingo, 23 de julho de 2006

Filme prejudicou a venda do livro “Código Da Vinci”

Autor: Edson   |   11:37   Seja o primeiro a comentar

Filme prejudicou a venda do livro “Código Da Vinci”

23 de julho de 2006

Segundo notícia vinculada por The New York Times, "Movie scrambles The Da Vinci Code sales" (Filme faz despencar vendas do [livro] “Código Da Vinci”), 10 de julho de 2006, por Matthew Flamm, após o lançamento do filme “O Código Da Vinci”, sete semanas atrás, e que ocupa atualmente o quinto lugar nas bilheterias, as vendas do livro best-seller, que deu origem a película, “cairam assustadoramente em 80% ou mais, segundo o Nielsen BookScan”.

São Paulo, sábado, 15 de julho de 2006

Os desvarios da Sra. Pesquisa

Autor: Edson   |   11:08   Seja o primeiro a comentar

Antigamente eu pensava que as pesquisas de opinião apresentadas pela mídia representavam realmente o pensar das pessoas, mas a cada dia que passa começo a achar que essas tais "pesquisas" têm corpo próprio e cabeça própria, chamá-la-ei de dona, ou melhor, Sra. Pesquisa, e que ao invés de representar a opinião pública apenas diz qual o rumo quer que ela tome.

Ela, a Sra. Pesquisa, e a opinião pública são dois adversários que lutam para ver quem vai influenciar o outro. É uma luta incruenta e psicológica. Nos últimos anos ela tem sido derrotada vergonhosamente. No ínicio ela mostra toda a sua força buscando ao máximo influenciar a sociedade em prol de um candidato ou de alguma opção, mas aos poucos, vendo que não consegue resultado e para não perder a confiança, contra a própria vontade reduz sua marcha e a passos de tartaruga permite que os verdadeiros anseios da sociedade vá a influenciando. Passado alguns meses, as últimas "opiniões" da Sra. Pesquisa contradizem cabalmente as primeiras.
Quatro fatos mostram a realidade do que falo. Nos dois primeiros, as pesquisas, ou melhor, a Sra. Pesquisa, se mostrou emperdenida, lutou até o fim, mas foi derrotada. Nos dois últimos, reconhecendo previamente a vitória da opinião pública, e para evitar o impacto do tombo, cedeu e tomou, um pouco pelo menos, ares de se conformar com os anseios das massas.

Vamos aos fatos:

1) Na última eleição presidencial dos EUA, grande parte mídia mundial, baseando-se nos dados, ou mais precisamente, desejos da Sra. Pesquisa, faziam festa pela já "certa" vitória do democrata John Carey, candidato a gosto dos esquerdistas. Segundo essa Sra., os eleitores votariam em massa contra o Bush. Isso foi dito até o dia das eleições. Depois da contagem dos votos alguns esquerdistas, que piamente acreditaram nela, acusaram a eleição de fraudulenta, pois a vitória de Bush foi esmagadora. Sobre isso, a pergunta que fica no ar é a seguinte: onde será que houve fraude nas eleições ou nos dos desejos da Sra. Pesquisa que se fazia porta voz dos desejos dos eleitores?

2) Houveram plebiscitos populares na França e na Holanda para a aprovação ou não da carta magna da União Européia, que na França era conhecida como constituição "Sodoma e Gomorra". Novamente a Sra. Pesquisa alardeava, com ajuda dos grandes meios de comunicação, até o dia da votação, que a vitória arrasadora para a aprovação era inevitável. Resultado final: o "não" ganhou nos dois países e a UE ficou com uma ferida interna que não se sabe se cicatrizará.

3) No Brasil, ocorreu algo parecido, no plebiscito do desarmamento, a Sra. Pesquisa falava que em torno de 80% da população aprovaria a proibição da vendas de armas e munições votando no "sim". Bem, o final desta história é muito conhecido: o "não" ganhou. O interessante é que aqui algo mudou, nossa amiga Sra. Pesquisa não ficou emperdenida até o fim, quando foram se aproximando o dia da votação, ela ía cedendo aos poucos e a contra gosto mostrando, de início, uma diminuição de margem entre o "Sim", que aprovava o desarmamento, e o "não", e no final já indicava o indício de vitória do "não". É incrível como a Sra. Pesquisa ficou maleável em sua posição.

4) A reeleição do atual presidente Lula, até algumas semanas atrás, era dada como certa, por esta Sra. já tão conhecida nossa. Segundo ela, os candidatos opositores tinham pequena margem de votos em comparação com o "imbatível Lula". Fatos mostravam o contrário, raramente se via alguém, fora da mídia e do Jet Set, defendendo o Lula e dizendo que votaria novamente nele, eu mesmo só conheci uma. Mas novamente estamos presenciando esta mudança de opinião da Sra. Pesquisa, ela está começando a mostrar que a margem não é tão grande assim. O próprio Lula disse "Mais dia, menos dia, esses números iriam aparecer" (crf. "Presidente cobra empenho". OESP. 1 de julho de 2006 ).

Parece que o próprio presidente confirmou a fraude nos discursos da Sra. Pesquisa. Esta que se auto proclama representante dos anseios da nação, diga-se de passagem, com grande ajuda da mídia.

São Paulo, quinta-feira, 13 de julho de 2006

Família - Principal alvo da Revolução Cultural (*)

Autor: Edson   |   18:11   1 comentário

Alfredo Mac Hale
Alejandro Ezcurra Naón
Publicado na Revista Catolicismo
A meta que o comunismo nunca conseguiu atingir através de bombas ou das urnas, seus sequazes estão obtendo indiretamente por meio da degradação moral da sociedade. A principal vítima: a família. Ela reagirá?
As classes dirigentes(**) parecem não ter-se dado conta de que as correntes de esquerda, substituindo a revolução proletária pela cultural, ao invés de se terem tornado moderadas, na realidade se radicalizaram, pois esta última implica a corrupção em grande escala dos costumes e forma parte da visão mais atualizada, perversa e extrema do próprio comunismo.
Seria por demais extenso indicar todos os autores comunistas e socialistas que promovem essa neo-revolução, toda ela de caráter psicológico e tendencial. Para compreendê-la cabalmente, importa mostrar a lógica que a inspira:
1) para implantar o chamado comunismo total — a anarquia — é preciso derrubar a sociedade “capitalista”, centrada na família “burguesa”;
2) e para desmantelar esta, deve-se dar livre curso ao sexo e à completa libertinagem.
Marxismo e abolição da instituição familiar
Já no Manifesto Comunista de 1848, Marx e Engels lançaram a sinistra proclamação: “Abolir a família!” (“Aufheburg der Familie!”), lema assumido e desenvolvido depois por todos os seus sequazes, entre eles Antonio Gramsci, fundador e mais tarde secretário-geral do Partido Comunista Italiano (PCI), considerado o maior ideólogo marxista do Ocidente.

Por volta de 1930 Gramsci elaborou sua estratégia de que, para estabelecer duravelmente o regime comunista, cumpria em primeiro lugar alterar o sistema vigente de convicções, tradições e costumes regionais;(1) e a esta mudança ele denominou Revolução Cultural.
Depois de Gramsci, muitos ideólogos marxistas adotaram essa estratégia. Herbert Marcuse, por exemplo, denominou-a “marxismo cultural” e precisou seu objetivo: derrubar “a moral da sociedade existente”, com vistas a anular as resistências às reformas anarquizantes marxistas. E não deixou dúvidas ao dizer: “Acabaram-se a idéia tradicional de revolução e a estratégia tradicional de revolução[...]. O que devemos empreender é uma espécie de desintegração difusa e dispersa do sistema”.(2)
Essa desintegração está hoje em marcha acelerada. Desde os anos 70 ela faz parte dos programas das esquerdas políticas da Europa e da América, e em particular dos partidos socialistas europeus. Estes apontam para uma “revolução total”, definida como “uma revolução nas formas de sentir, de atuar e de pensar, uma revolução nas formas de vida coletiva e individual, em suma, uma revolução da civilização”.(3) É também chamada de revolução psicossexual, porque sua “força decisiva”, como explica um ideólogo francês, é a “sexualidade expansiva” (leia-se: sem freios), a qual “deve acompanhar o curso da revolução econômica, social e política”.(4)

Por efeito desse fenômeno, a agenda política de perversão dos costumes (divórcio, aborto, concubinato e união homossexual, a caminho do amor livre; igualdade entre esposa e concubina, assim como entre filhos legítimos e naturais; recusa progressiva da influência da Igreja na educação e na cultura), que no início do século XX só era apoiada pelos partidos nitidamente marxistas, hoje é tolerada por grande parte dos partidos, inclusive por muitos que se crêem e se dizem de centro ou de direita. E naturalmente essa agenda se vai impondo nas leis e na vida quotidiana.
Multiforme ofensiva neopagã e desintegradora
Nossos países são desse modo alvo de uma ofensiva neopagã e desintegradora, cuja investida se faz sentir a todo momento: pela inundação da pornografia dura na imprensa popular, ou branda na imprensa “séria”; nas torrentes de telelixo que as emissoras de televisão lançam diariamente nos lares; nas modas sempre mais vulgares, procazes e tendentes ao nudismo; na indução ao permissivismo crescente; nos programas de educação sexual que conduzem à libertinagem e nos planos de “saúde sexual e reprodutiva” que os amparam; no aborto legalizado ou clandestino, abertamente tolerado; nas diversões cada vez mais frenéticas e desvairadas oferecidas a adolescentes e jovens; no gigantesco esforço midiático em derrubar as barreiras da homossexualidade, etc. Em suma, na obsessão sexopática que satura o ambiente publicitário e cultural, empurrando os países para uma decadência moral e social sem precedentes.
A Espanha dá triste exemplo de até onde chega esse extremismo revolucionário, ao exibir os mais altos índices europeus de dependência às drogas e licenciosidade nos costumes. Seguindo a agenda socialista, o governo de Rodríguez Zapatero não só confere status jurídico aos pseudo-casamentos sodomitas, como também aos “direitos sexuais”, cada vez mais extremados. E essa mesma agenda é acompanhada, um pouco mais atrás, pela presidente Bachelet no Chile ou por Kirchner na Argentina — e o que dizer do Brasil? ... — assim como por todos os partidos filiados à Internacional Socialista.
Incompreensível omissão, triste paradoxo
O anteriormente visto permite compreender que a nova estratégia revolucionária visa acabar com a família pela introdução da anarquia sexual, ante-sala da anarquia total. Aqueles que não tiverem isso claro, simplesmente não entendem quase nada do que ocorre, nem do que poderá ocorrer em nossos dias. Diante da Revolução Cultural em curso, farão o triste papel –– sobretudo se de dirigentes se tratar –– do “cego que guia outros cegos” (cfr. Mat. 15, 14).
Como isso é generalizado, a família verdadeira quase não encontra líderes políticos que a defendam; o que é inaudito, à vista do papel vital que ela tem para o presente e o futuro, e da assiduidade com que é combatida. Eis um tema sempre ausente de todas as campanhas eleitorais, em grande parte porque a esquerda deseja o quanto possível demolir inadvertidamente a família, e também porque os demais partidos são coniventes com esse programa.
Numerosas nações vivem assim um triste paradoxo. Enquanto as eleições confirmam a recusa do eleitorado à esquerda radical, a Revolução Cultural empurra os países, de forma gradual, para a meta mais extrema perseguida por ela. E o que o comunismo nunca conseguiu diretamente através de bombas ou das urnas, seus sequazes estão conquistando indiretamente por essa via.
Nessas circunstâncias, os líderes de inspiração cristã deveriam assumir a defesa da família ameaçada, enfrentando com inteligência, constância e destemor a ofensiva dos lobbies ideológicos internacionais que promovem a sua desintegração através do crime do aborto, da perversão homossexual e da libertinagem, e não como vem ocorrendo, quando o fazem raras vezes e mediocremente.
Cumprirão as classes dirigentes seu dever de resistir?
As calamidades sócio-econômicas causadas desde os anos 60 pelo socialismo se deveram, em grande medida, à indolência das classes dirigentes, que não souberam prevê-las nem enfrentá-las. Até o momento, parece que essas mesmas classes repetirão essa atitude em face da devastadora Revolução Cultural, da qual seus próprios membros infelizmente foram, e tantas vezes ainda são, cúmplices por ação ou omissão.

A tais elementos aplica-se a advertência do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua consagrada obra Revolução e Contra-Revolução: “Uma autoridade social que se degrada é, também ela, comparável ao sal que não salga. Só serve para ser jogado na rua, para que sobre ele pisem os transeuntes (cfr. Mt. 5, 13). Assim o farão, na maioria dos casos, as multidões cheias de desprezo”.(5)
Outro tanto cabe dizer do conjunto da Hierarquia Eclesiástica que, o mais das vezes, parece ter preferido nos últimos tempos evitar conflitos com o poder temporal, a defender os princípios atacados. Sem notar que dificilmente voltará atrás a deterioração dos costumes que se produz; e caso volte, não se sabe por que preço.

Não obstante, se alguns representantes das classes dirigentes, e a fortiori do clero, derem exemplo de verdadeiro zelo pelo bem moral das nações, assumindo com intrepidez o dever que lhes corresponde, poderão ainda reverter a situação, pois em muitos ambientes há almas — dispersas e isoladas, mas também indignadas com a corrupção que avança — que poderão aglutinar em torno de si incontáveis pessoas perplexas, à espera de uma voz autorizada convocando-as a resistir. E, muito mais importante, a essas almas a Divina Providência certamente dará, no momento-chave, ajuda, luzes e forças inéditas para conduzi-las à vitória.
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Notas:
(*) Revista Catolicismo, Julho, 2005. www.catolicismo.com.br , título original: "Revolução Culturalcorroendo a América Latina"
(**) Por motivos de espaço no blog suprimi o ínicio do artigo e por algumas razões modifiquei o título, o leitor encontrará na integra o artigo no site cima indicado.

1. Cfr. P. Alfredo Sáenz, Antonio Gramsci y la Revolución Cultural, Ed. Gladius, Buenos Aires, 1997.

2. Herbert Marcuse, La Sociedad Carnívora, Editorial Galerna, Buenos Aires, 2ª ed., 1969, p. 45.

3. Pierre Fougeyrollas, Marx, Freud et la révolution totale, Anthropos, Paris, 1972, p. 390.

4. Idem, p. 367.

5. Plinio Corrêa de Oliveira, Revolución y Contra-Revolución, Ed. Tradición y Acción, Lima, 2005, Parte II, Cap. XI, 1, A.

São Paulo, quarta-feira, 5 de julho de 2006

"New look" socialista - lobo disfarçado de ovelha.

Autor: Edson   |   18:49   1 comentário

(Publicado também no Blog LatinoAmericaS http://latinoamericas.blogspot.com/)
A experiência mostrou aos marxistas a insuficiência dos meios tradicionais de atingir o poder e o domínio da opinião pública e forçou-os a um "new-look". Compreenderam eles a necessidade de vestir pele de ovelha para penetrar em certos ambientes.

A esse "new look" parece acompanhar uma certa influência da imagem sobre uma opinião pública cada vez menos raciocinante e mais sujeita a impressões(1) fazendo com que a fisionomia psicológica do político seja mais apreciada que seu programa de governo, o qual se conhece de modo vago ou implícito de acordo com o partido que pertença, partido muitas vezes de contornos difusos.
As vitórias eleitorais de FHC e de Lula para presidente da república se deram não por uma apoio das massas à ideologia esquerdista, mas pelo personalismo apresentado por ambos durante suas campanhas - que são marcadas tradicionalmente por uma ausência completa de idéias.

Personalismo carregado de sorrisos, boa aparência, cordialidade, filantropia, mostrando o desejo de colaborar com o adversário, etc. Nem parece com as principais figuras socialo-comunistas do passado, materialista, ateu categórico, temperamento explosivo, agitadores e fabricadores de revoltas. Dir-se-ia que eles abandonaram suas metas de implantar no Brasil um regime comunista ou socialista, fase intermediária do comunismo. Puro engano, usam eles o sorriso como arma publicitária apenas para atingir o poder.
As aparências enganam. "Guardai-vos dos falsos profetas. Eles vêm a vós disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos arrebatadores" (São Mateus 7,15).
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(1) Não se ha dito em vão que estamos na "civilização da imagem", cuja realidade foi constatada por Paulo VI (Cfr. Exortação Apostólica "Evangelii Nuntiandi", 8/12/1975. Documentos Pontíficios, nº 188, Vozes, Petrópolis, 1984, 6ª Ed., p.30).

São Paulo, segunda-feira, 3 de julho de 2006

Não do urso, é claro

Autor: Edson   |   22:24   Seja o primeiro a comentar

Luís Afonso Assumpção, em artigo publicado em seu blog, refere-se de passagem ao fato de que investidores capitalistas do ocidente presenteiam países comunistas com toneladas de dinheiro. Isso me fez lembrar um comentário do professor Plínio Corrêa de Oliveira, dizia ele que esta atitude é por causa de uma "crença ingênua, de fundo "rousseauneano", de que o homem é naturalmente bom e só se torna agressivo em razão da miséria. Num mundo onde todos estejam saciados, os homens não cometeriam crimes, nem as nações empreenderiam guerras. Farte-se de riquezas o povo russo e o perigo de guerra desaparecerá. É este o pressuposto que leva tantos americanos – e não americanos – a depositar uma fé cega na coexistência pacífica. E assim se explica essa política, que depois da viagem de Nixon a Moscou se vem [1972] evidenciando, de encher a Rússia de fábricas, de técnicos, de oleodutos e de créditos esplêndidos para pagar tudo isto. Isto sai mais barato do que uma guerra, pensa Tio Sam."

Esse comentário faz parte de um artigo pequeno, mas muito interessante, já o título chama a atenção, que passo a publicar:

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"O Jornal", Rio de Janeiro, 4 de julho de 1972

Não do urso, é claro
Plínio Corrêa de Oliveira

Em declaração pouco posterior ao acordo de Moscou, o Sr. Kissinger deixou bem patente que tudo quanto Nixon combinou no Kremlin se baseia na persuasão de que os comunistas desejam sinceramente a paz; de tal sorte que a ser falsa essa hipótese os acordos de Moscou ruiriam com um castelo de cartas.

Esta afirmação convida a uma pergunta: no que se fundam os Srs. Nixon e Kissinger para estarem tão certos da lealdade pacifista do Kremlim? Como bem se sabe, os doutrinadores oficiais do comunismo consideram a moral – e portanto o respeito à palavra dada – um mero preconceito burguês. De outro lado o comunismo é, por sua própria índole, agressivo e imperialista: seu fim é a revolução proletária mundial. A história de nosso século regurgita de provas da sanha imperialista dos comunistas e de seu cabal menosprezo aos tratados e compromissos. Nos próprios dias da visita de Nixon a Moscou, a Rússia sorveu num só trago todo o petróleo do Iraque. Essa é a sinceridade do pacifismo soviético.

Mas, dir-se-á, é outra a razão do otimismo americano. A Rússia muito sinceramente não quer a guerra, porque esta não lhe interessa. Já que os armamentos vão ficar 1 a 1, ambas as partes só poderão ser prejudicadas pela luta. Mas, pergunto, quem garante que este equilíbrio bélico seja honestamente observado da parte soviética? Voltamos, assim, ao problema da sinceridade.

A meu ver, o otimismo de Nixon e de sua equipe – ou dos americanos que os apoiam – tem outra raiz. É a crença ingênua, de fundo "rousseauneano", de que o homem é naturalmente bom e só se torna agressivo em razão da miséria. Num mundo onde todos estejam saciados, os homens não cometeriam crimes, nem as nações empreenderiam guerras. Farte-se de riquezas o povo russo e o perigo de guerra desaparecerá. É este o pressuposto que leva tantos americanos – e não americanos – a depositar uma fé cega na coexistência pacífica. E assim se explica essa política, que depois da viagem de Nixon a Moscou se vem evidenciando, de encher a Rússia de fábricas, de técnicos, de oleodutos e de créditos esplêndidos para pagar tudo isto. Isto sai mais barato do que uma guerra, pensa Tio Sam.

Isto me faz lembrar um domador de circo que mantinha seu urso acorrentado, como é natural. E, como o homem ganhasse pouco, nutria parcamente o seu urso. Fraca e jugulada, a fera se mostrava relativamente submissa. Um dia, o domador se tomou de compaixão, porque o urso lhe abriu os braços para um grande amplexo. Pensou que com um pouco de carinho e mais alimento, a fera mudaria de índole. Imaginou ter chegado o dia da convivência pacífica entre ambos. Encheu o urso de tabletes de açúcar, soltou–lhe a corrente e aceitou o abraço. O resto da história foi sangue. Não de urso, é claro...

São Paulo, sábado, 1 de julho de 2006

Neoliberalismo ou neo-socialismo?

Autor: Edson   |   19:03   1 comentário

Pedro Luiz de Carvalho
Publicado na Revista Catolicismo(*)
Os problemas econômicos que assolam nosso País provêm da aplicação de princípios do liberalismo econômico? Ou está-se qualificando de neoliberal uma política baseada, de fato, em princípios socialistas?

O Santo Padre Pio XI condenou energicamente o socialismo, em todas as suas versões Em artigo publicado em “O Estado de São Paulo” de 20-10-99, sob o significativo título de Marighella, o tristemente afamado Frei Betto, com sua costumeira linguagem demagógica, lança a culpa de todos os nossos males “na invasão hodierna do FMI, na qual o garrote é substituído por retaliações, a rendição por acordos, as baionetas pelo fluxo de capitais, os saques por juros e amortizações, os chefes de armadas por ministros da Fazenda subservientes à metrópole”. Tudo em meio a um canto de louvor à memória de Marighella, colocado num altar ao lado de Luther King, Ché Guevara, Luiz Carlos Prestes e Francisco Julião...

Por outro lado, D. Cláudio Hummes, Arcebispo de São Paulo, em artigo também publicado naquele diário paulista, afirma que “a globalização econômica, de perfil neoliberal selvagem, produziu um altíssimo e intolerável índice de desemprego”.

Os “falsos canalhas”

Por seu lado, o conhecido economista e ex-Senador Roberto Campos, em artigo publicado na revista “Veja”, edição de 3-10-99, sob o título Os Falsos Canalhas, demonstra aquilo que nós, não economistas, vislumbrávamos há já bastante tempo: “tornou-se um modismo recente incriminar pela estagnação do desenvolvimento brasileiro dois falsos canalhas: o neoliberalismo e a globalização. Só que esses dois canalhas quase não existem no Brasil”. E prossegue o articulista: “Nenhum dos institutos especializados em análises comparativas internacionais de graus de liberdade econômica deixa de classificar o Brasil como impenitentemente dirigista”. Assim, o Economic Freedom of the World, publicado conjuntamente por 11 Institutos de pesquisa a partir de 1996, ao avaliar o nível de liberdade econômica de 124 países, segundo 24 critérios, situa o Brasil em “um desprestigioso 93.º lugar, entre Marrocos e Gabão”. E “nossas políticas econômicas são tidas por menos liberais que as de países ex-comunistas, como a República Checa, Hungria e Polônia.”

“Isso é fácil de entender. Não pode ser exemplo de neoliberalismo nossa ‘república de alvarás’, que tem moeda inconversível, controles cambiais, complicadíssima regulamentação trabalhista, tributação punitiva que asfixia o setor privado, uma Constituição intervencionista que até recentemente sancionava monopólios estatais, e expandiu de catorze para quarenta os instrumentos de intervenção econômica”.

E acrescenta o articulista: “O Brasil está também longe de ser um campeão da globalização”. Assim, a participação do comércio exterior no PIB “é de apenas 15%, inferior à média latino-americana e largamente superada na Europa e nos países emergentes da Ásia”.

Argumenta Roberto Campos: “Neoliberalismo e globalização não explicam, portanto, nossa pobreza. São falsos canalhas. Os verdadeiros canalhas são outros”.

Dentre os “outros canalhas”, apontados pelo conhecido economista, destacam-se: “A previdência pública compulsória, que é um sistema de solidariedade invertida, sendo ao mesmo tempo: antidemocrática (porque obriga o cidadão a entregar sua poupança a um administrador público); anti-social (pois a contribuição dos pobres financia aposentadorias precoces especiais em favor de classes politicamente mobilizadas); e antidesenvolvimentista (porque não é fonte de poupança capitalizada para a alavancagem do desenvolvimento)”.

Denuncia ainda o ex-Senador “um sistema fiscal punitivo e voraz que, entre impostos e déficits, absorve 40% do PIB, sem contrapartida aceitável de serviços”, e “déficits fiscais que criam um ciclo vicioso: já fugiram os capitais externos – voláteis – e os poupadores nacionais exigem juros elevados. Estes deprimem a economia privada e as receitas fiscais. Esse círculo vicioso é ‘made in Brazil’. Não foi gerado pelo neoliberalismo nem pela globalização”.
* * *

Marighella: idealista, defensor da dignidade e da justiça?

“Há quem prefira silenciá-lo para não se sentir questionado pelo que ele significa de firmeza de convicções e, sobretudo, idealismo centrado no direito de todos os brasileiros à dignidade e à justiça”, escreve Frei Betto.

Deveríamos então sentir-nos questionados por quem propôs como objetivo de sua vida transformar nossa Pátria, mediante atuação terrorista, num país comunista, ateu, igualitário e anticristão, como a infeliz Cuba de Fidel Castro, do “Paredón” e da miséria? Tal proposta representa um escárnio à inteligência de qualquer um, pois essas desgraças são conhecidas de todos!

* * *

Neoliberalismo ou Neo-Socialismo?

É bem evidente que não é nas gloriosas páginas de Catolicismo que o leitor encontrará uma defesa da globalização destruidora das autênticas diferenças culturais das nações, e mesmo das regiões, nivelando tudo por baixo e tendendo a estabelecer uma sociedade mundialista igualitária, que evoca a pavorosa imagem do Leviatan.

Tampouco consideramos o capitalismo e o liberalismo econômico nosso modelo ideal de sistema e de doutrina econômicos. Embora seja certo que o capitalismo, em seus princípios fundamentais de defesa da propriedade privada e da livre iniciativa, está de acordo com a doutrina social católica defendida pelos Papas, devendo ser combatido em seus abusos.

Qualquer leitor habitual de Catolicismo conhece nossa posição de defesa dos valores básicos da Civilização Cristã, à luz dos princípios sempiternos da doutrina tradicional da Igreja Católica. E, de modo mais especial, já tomou conhecimento da defesa que nossa revista, ao longo de seus quase 50 anos de existência, tem feito de uma concepção orgânica da sociedade civil e de suas instituições políticas, sociais e econômicas. Em outros termos, tais instituições devem funcionar de modo análogo ao de um organismo vivo (*).

Costumes campestres tradicionais indicam resquicios de sociedade orgânica ainda existentes hoje, como o cortejo de vacas ornamentadas com flores durante festejos populares na Alta Baviera (Alemanha) Na terminologia do Papa Pio XII, essa sociedade orgânica é denominada verdadeiro povo, que se opõe à massa, isto é, a um aglomerado amorfo e revolucionário de indivíduos.

Acontece, porém, que, para tentar salvar a honra do sanguinário e antinatural regime comunista – se é que a palavra honra possa ser aplicada a um regime que timbra em violar princípios da ética natural e da moral católica –, as esquerdas vêm profetizando o fracasso do capitalismo.
O que não se pode admitir é que essa mesma esquerda – responsável de ter lançado o País à beira da desgraça a que foram submetidos os países do Leste europeu, e que, no presente, subjuga a China, o Vietnã, o Cambodge e Cuba – venha agora nos querer impor “goela abaixo”, a idéia de que estaríamos sendo conduzidos à ruína pelo liberalismo econômico. Este, ao menos, não se constitui – como o socialismo em suas diversas modalidades – num regime antinatural em sua essência, em seus fundamentos mesmos, como repetidamente foi lembrado pelo Magistério tradicional da Igreja.

A esse propósito, é bastante significativo o seguinte tópico da Quadragésimo Anno, de Pio XI:
“O socialismo, quer se considere como doutrina, quer como fato histórico, ou como ‘ação’, se é verdadeiro socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos pontos sobreditos, não pode conciliar-se com a doutrina católica, pois concebe a sociedade de modo completamente avesso à verdade cristã .... Socialismo religioso, socialismo católico são termos contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro socialista” (Papa Pio XI, Encíclica Quadragesimo Anno, Vozes, Petrópolis, pp. 43-44).

Na verdade é a aplicação de princípios socialistas que está empurrando o País por um caminho que o Brasil cristão e autêntico abomina, rumo este rejeitado por todo brasileiro de bom senso!
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